terça-feira, 23 de junho de 2009

Maranhão - Colônia

Ano de 1500 – 22 de abril – Descobrimento do Brasil
Assunto polêmico, que ainda hoje divide opiniões: acaso ou conhecimento prévio da existência de terras para o ocidente? Pedro Álvares Cabral não mantinha ciosamente guardado o manuscrito que lhe dera Vasco da Gama, em Lisboa, e não ouvira dele o conselho para que navegasse mais para oeste e escapasse das calmarias do golfo da Guiné? E Cristóvão Colombo já não indicara o caminho, descobrira a América, embora pensando ter chegado às Índias? Há, portanto, justificadas razões de suspeitas, reforçadas pelas velhas lendas da existência da Atlântida, e de uma ilha misteriosa em meio do oceano, chamada Hy-Brasail. Por outro lado, havia o interesse de tomar posse das terras que couberam a Portugal no “testamento de Adão” (que era como Francisco I, de França, chamava ironicamente o Tratado de Tordesilhas, de 1494), que dividia o mundo entre Portugal e Espanha. Assim, a 22 de abril de 1500, capitão e tripulantes da esquadra de Pedro Álvares Cabral, depois de 15 dias de viagem, pois partira de Lisboa a 8 de março, avistaram um monte muito alto e redondo, a que deram o nome de Monte Pascoal. O Brasil havia sido “descoberto”. Descobriu-se o já sabido; Cabral voltou a Portugal e deu seu recado ensaiado: - Terra à vista! Vera Cruz! Santa Cruz! Brasil!
Ano de 1534 – Donatarias ou Capitanias hereditárias e a cidade de Nazaré
Durante três décadas ficou ela esquecida, empenhado o rei D. Manuel I em dilatar suas conquistas no Oriente. Seu antecessor, D. João II, compreendeu a urgência de promover a colonização, visto que seria perigoso deixar o desguarnecido Brasil à cobiça de Holandeses, Franceses, Ingleses e Espanhois. Dividiu o território em 12 capitanias hereditárias, confiando as do norte (as que aqui nos interessam) a João de Barros e Fernando Álvares de Andrade que, associando-se a Aires da Cunha, intentaram apossar-se dela, sem resultado. Eram lotes enormes, de cerca de 350 km de largura, até à linha estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas, interior a dentro. “Dez anos depois de criadas, as desordens internas, as lutas com os índios e a ameaçadora presença dos franceses acabaram provocando o colapso do sistema que o rei e seus conselheiros haviam optado por aplicar ao Brasil” (Eduardo Bueno, “Capitães do Brasil”)
A capitania de João de Barros (intelectual, autor da “História da Índia” e“Décadas da Ásia”) não foi adiante; na primeira tentativa toda a frota de 10 navios, segundo a História, perdeu-se nos baixios do Boqueirão, defronte da ilha do Medo. Contrariando essa versão, ficou-nos a notícia da existência de uma cidade, chamada Nazaré, fundada pelos sobreviventes do naufrágio, gente “que logo contraiu amizade com seus tapuias seus habitadores, assim refere o chantre da Sé de Évora, Manuel Severino de Faria, e o comprova Antônio Galvão, nos seus “Descobrimentos do Mundo, no ano de 1531”, segundo José de Sousa Gaioso, em “Compêndio Histórico-político dos Princípios da Lavoura do Maranhão”. Quanto à Nazaré, se de facto existiu, não vingou; Bernardo Pereira de Berredo, nos “Anais Históricos do Estado do Maranhão”, estranha que, decorridos apenas oitenta anos, a expedição de Jerônimo de Albuquerque não haja encontrado vestígios desse sítio, o que não impede que estudiosos do assunto afirmem ainda ser verídica sua existência, esposando a tese de ter São Luís origem lusa e não francesa.
O segundo donatário do Maranhão, Luis de Melo e Silva, não foi mais feliz e, enquanto isso, os franceses, ingleses e holandeses estabeleciam nas costas abandonadas suas feitorias para o negócio do pau-brasil, âmbar etc., com os índios.
Ano de 1549 – Governo Geral do Brasil
É implantado o Governo Geral do Brasil e nomeado para exercê-lo Tomé de Sousa, que funda a cidade de Salvador. O regime que vigorou até 1640, quando o Brasil foi elevado à categoria de vice-reino.
Ano de 1565 – Expulsão dos franceses do Rio de Janeiro
O governador-geral Mem de Sá (1557-1572), envia o seu sobrinho Estácio de Sá para expulsar os franceses de Nicolas Durand de Villegagnon da baía de Guanabara.
Ano de 1612 – 8 de setembro – Fundação da França Equinocial
Desde 1594 Jacques Riffault estabelecera em Upaon-açu (ilha de São Luís) uma feitoria, deixando-a a cargo de seu compatriota Charles dês Vaux, que havia conquistado a amizade dos silvícolas, e tinha inclusive o domínio da língua nativa. Dês Vaux, indo à França, provocou a vinda de Daniel de La Touche, mandado por Henrique IV numa viagem de reconhecimento do terreno. Não obstante ter sido o rei assassinado nesse meio-tempo, e entusiasmado La Touche com a terra, conseguiu com Maria de Medicis, regente na menoridade de Luís XIII, concessão para estabelecer uma colônia ao sul do Equador, 50 léguas para cada lado do forte a ser construído.
Ano de 1612 -A 26 de julho chega ao Maranhão a expedição de Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardiére, fundeando em Upaon-mirim (futura ilha deSaint’Ánne, e depois, Trindade, onde os sobreviventes do naufrágio de Aires da Cunha teriam fundado a cidade de Nazaré).
12 de agosto - Tendo os franceses passado à Ilha-grande, foi rezada a primeira missa e erguida uma cruz.
8 de setembro - Solenemente, fundaram a colônia, a França Equinocial, com a colaboração espontânea dos índios, tendo à frente o cacique Japiaçu e iniciaram a construção do forte, chamado de São Luís, em honra ao rei-menino, o qual “posto que feito de estacadas é forte por arte de grandes terraplenos, com seus baluartes altos e casamatas com fosso de quarenta palmos de largo e dez de alto. (Alexandre de Moura, “Relatório” de 1616).
Haviam-se associado à empresa o rico Barão de Molle e Gros-Bois, Senhor de Sancy e François de Rasilly, Senhor de Aunelles e Rasilly, que financiaram a armação das naus “Regente” e “Charlotte” e o patacho “Saint'Anne”.
-Integraram a expedição os padres franciscanos Yves d’Evreux, Claude d'Abbeville, Arsene de Paris e Ambroise d’Amiens, dando início ao culto católico, muito embora fosse La Ravardiére protestante, e à decantada catequese dos indígenas que alcançaria seu paroxismo com os Jesuítas que, a serviço do poder real, apoiaria a escravidão e, assassinando não só o corpo, mas a própria alma dos índios, implantaria o catolicismo hipócrita do crê ou morre.
1º. de novembro – Ao lado da cruz colocaram as Armas da França e, diante de todos, franceses e índios, especialmente convocados de todas as aldeias, juraram fidelidade à Sua Majestade Cristianíssima, o Rei, dando-se à colônia recém-fundada uma constituição, a segunda do Brasil (Regimento dado a Tomé de Sousa, em 1549, quando da implantação do Governo Geral) e a primeira do Maranhão
Ano de 1613 – 16 de abril – A Colônia francesa
Segundo a maioria dos historiadores, coube aos franceses a primazia da colonização do Maranhão, pois seu comércio, posto que incipiente, foi além dos produtos da indústria extrativa do pau-brasil e do âmbar, com o cultivo do algodão e do fumo, além da descoberta de minas de ouro, prata e enxofre. Por outro lado, foi essa ocupação do território que abriu os olhos à Coroa para a necessidade de promover a efetiva posse da Capitania, até então desprezada.
-Chegam ao Maranhão, com Du Pratz, 300 pessoas, oficiais de todos os ofícios mecânicos (carpinteiros, alvanéis (pedreiros), tecelões, fundidores, serralheiros, canteiros, sapateiros, alfaiates), inclusive gentis-homens, além dos astrólogos De Faus e Janet, e 10 capuchinhos, sob as ordens de frei Arcângelo de Pembroch.
Data dessa época a construção dos fortes de Itapari, Sardinha e Cahur, o Des Cahors dos franceses, o nosso muito familiar Caúra, defronte de Ribamar.
-26 de outubro – Chegada dos portugueses
Jerônimo de Albuquerque e Diogo de Campos chegam a Guaxenduba, próximo da foz do rio Munim e dão início à construção do forte de Santa Maria.
- 28 de outubro – É rezada a primeira missa pelos portugueses, os padres Miguel Gomes e Diogo Nunes, vindos com Albuquerque na “Jornada Milagrosa”. Foram os primeiros religiosos portugueses a por os pés no Maranhão, muito embora seja provável a chegada de outros padres nas expedições de João de Barros/Aires da Cunha e a de Luís de Melo e Silva, como era de praxe. No entanto foi daqueles que a História fez registro.
19 de novembro – Batalha de Guaxenduba.
300 franceses e 2.000 índios, sob o comendo do próprio La Ravardiére, entrincheiram-se no outeiro defronte do forte lusitano. Jerônimo de Albuquerque divide suas forças em duas colunas, cada uma com 70 soldados e 40 índios, assumindo o comando de uma, enquanto Diogo de Campos e Antônio de Albuquerque (filho de Jerônimo) acometia os franceses, na praia. Apesar da inferioridade numérica, obtiveram os portugueses retumbante vitória; romperam-se as linhas gaulesas com o ataque de Diogo de Campos e a debandada foi geral. Quando os silvícolas, sob o comando do capitão Madeira, atacaram, os franceses perderam seu comandante Du Pezieux e mais de 100 combatentes, abatidos na luta, ou afogados na fuga, ou devorados pelos tubarões. Os cronistas portugueses dão apenas 10 mortos e 30 feridos como baixas, e entre os últimos, Antônio de Albuquerque, Estevão de Campos e Belchior Rangel.
Sobre a vitória portuguesa criou-se a lenda do Milagre de Guaxenduba, que o padre José de Morais assim descreve: “Foi fama constante (e ainda hoje se conserva por tradição) que a Virgem Senhora fora vista entre os nossos batalhões, animando os soldados em todo o tempo de combate”; e Humberto de Campos imortalizou no magnífico soneto “O Milagre de Guaxenduba”.
27 de novembro – Tratado de trégua
Concordaram os adversários em suspender hostilidades e enviar representantes dos dois lados à Europa, submetendo o litígio à decisão dos governantes de seus países, devendo o vencido retirar-se do Estado dentro de dois meses.
24 de dezembro – Inauguração do Convento de São Francisco (Abbeville)
Ano de 1614 – 1o. de novembro – Expulsão dos franceses
Alexandre de Moura, à frente de uma expedição de 600 soldados, mandou Albuquerque tomar o forte de São Luís. Jerônimo, com tal reforço de tropas, falando ao trato do armistício, deu a La Ravardiére o ultimato de evacuar a ilha, dentro de cinco meses.
Ano de 1615 -31 de setembro – Rendição dos franceses
-200 franceses entregam, sem luta, o forte de São Luís. Há indícios de que La Ravardiére, reagindo ao abandono que lhe votou o governo francês, haja negociado, por 2.000 cruzados, a entrega do sonho da França Equinocial aos portugueses. São dúvidas que permanecem na História.
Ano de 1616 – 9 de janeiro – Primeiro capitão-mor do Maranhão
Assume o governo da colônia Jerônimo de Albuquerque Maranhão (como passou a assinar) com o título de capitão-mor da Conquista, retirando-se Alexandre de Moura. São nomeados: Ouvidor e Auditor Geral, Luís Madureira; Sargento-mor,. Baltazar Álvares Pestana; Capitão do mar, Salvador de Melo; Capitão das entradas, Bento Maciel Parente; Capitão de Cumã, Martin Soares Moreno; Ambrósio Soares, Comandante do forte de São Felipe (o forte de São Luís teve o nome mudado para de São Felipe, em honra a Felipe II de Espanha, a cujo reino estava sujeito Portugal, a partir de 1580, com a derrota do exército lusitano do prior do Crato, D. Antônio); Álvaro da Câmara, Comandante do forte de São Francisco e Antônio de Albuquerque, do forte de Itapari.
O Capitão-mor tratou da remodelação do forte principal, de acordo com a planta do Engenheiro-mor do Brasil, capitão Francisco Frias de Mesquita, bem como da disposição das ruas, segundo o plano do mesmo engenheiro, e outras providências, inclusive a construção da residência dos governadores. Daí a discussão acadêmica acerca da cidade de São Luís, para alguns, fundada pelos portugueses e não pelos franceses. Minúcias de especialistas.
Iniciou-se assim, com Jerônimo de Albuquerque, o governo dos Capitães-mor, que se estendeu até 1824, com a nomeação de Miguel Inácio dos Santos Freire e Bruce, primeiro presidente constitucional da Província do Maranhão, já no Brasil independente. -Bento Maciel sobe o rio Pindaré à procura de minas, sem resultado, e aproveita a viagem para mover guerra aos guajajaras.