terça-feira, 20 de abril de 2010

BURITICUPU – MA, Um passeio na sua história.

Viajando pela estrada de ferro Carajás tive a oportunidade de encontrar um grande amigo que durante a viagem de São Luis a Açailândia me emprestou um livro muito interessante de Isaias Neres Aguiar com o título de “BURITICUPU – Sua História e Suas Características... O Maranhão e o projeto pioneiro de colonização”, um título histórico e sócio-cultural muito importante para aqueles que gostam de aprender um pouco de nossa história e nossa gente.

No início o autor fala sobre os primeiros habitantes que não poderia deixar de ser os índios. Os guajajaras foram levados no ano de 1941 pelo extinto SPI (Serviço de Proteção ao Índio) e habitaram à beira do Rio Zutiua. O que a população não sabia até então é que a região já era habitada a muito tempo pelos índios das tribos Guajá e Tupi-guarani, que haviam fugidos do litoral maranhense à aproximadamente 350 anos. São índios primitivos que até hoje moram nas matas de Buriticupu e não tem contato algum com brancos, sobrevivem sobretudo da caça e da pesca, coletam frutos, plantas e mel silvestres e segundo os historiadores não tem hábito de fumar e, ainda mudam-se freqüentemente de lugar em busca de alimentos, geralmente em beiras de rios da região e já foram vistos algumas vezes por caçadores e pôr índios guajajaras, sendo que geralmente se mudam para não ter contato com estranhos. Um fato que me chamou atenção é que os índios guajajaras também temem os primitivos e se afastam com medo de conflitos entre ambas as tribos.

O fator predominantemente importante para a criação e colonização da região foi a criação da COMARCO (Companhia Maranhense de Colonização) que foi criada em 6 de dezembro de 1971 pelo então governador Pedro Neiva de Santana. No início estudos indicaram que aquela área era bastante propícia para a prática da agricultura e pecuária. Estabelecida a área para a colonização o governo do estado tratou de abrir a estrada MA-74 que mais tarde passou para o governo federal e foi registrada como BR-222. Em 1972 começou a ser discutido o nome do povoado a ser criado e os engenheiros da COMARCO descobriram que próximo ao rio conhecido por Barra da Jurema existiam bastante palmeiras de buriti e nas matas da região eram abundantes as árvores de cupu, foi só juntas os dois nomes e chegaram ao nome de BURITICUPU.

O primeiro administrador do povoado foi escolhido pelo governador com o apoio da COMARCO e se chamava Boileau Dantas Vanderley Filho. Logo após a sua chegada ele providenciou a construção das primeiras casas da região que foram erguidas com palhas de anajá. Em 1973 o governo do estado começou a cadastrar agricultores que queriam habitar a região para desenvolver a agricultura familiar e logo chegaram as primeiras mudanças. Um fato que é importante mencionar é que boa parte destas mudanças foram feitas pelo caminhoneiro Antonio José de Assis Braide onde o mesmo é hoje a figura política mais importante da região do Pindaré, onde já foi prefeito diversas vezes, elege sempre sua esposa Janice Braide e, até os dias atuais, elege todos os prefeitos da cidade de Santa Luzia do Tide.

O projeto de colonização ficou praticamente paralisado no governo de Nunes Freire que apenas inaugurou obras do governo anterior e cometeu diversos abusos, um deles foi à inauguração do hospital da colônia onde o mesmo em alto e bom tom falou para autoridades presente que “Não havia nenhuma necessidade de se construir um hospital tão grande dentro do mato”. Nesta época foi implantada a primeira delegacia de polícia de Buriticupu onde foi designado o Major Carlos Alberto Barateiro da Costa que era conhecido como “Major Bebeto” onde, devido o seu grande trabalho junto a comunidade foi para a cidade de Imperatriz-MA para assumir o cargo de interventor municipal. Logo depois foi nomeado para o cargo de delegado o Sargento Luis monteiro de Sousa, conhecido como sargento Furrupa que só era falado na sua ausência. Furrupa ficou conhecido em todo o Maranhão devido o seu jeito de trabalho que mandava espancar os presos, mandava matar e se achava o dono do povoado. Só que no seu caminho apareceu um senhor Antônio, 25 anos, conhecido como Fogoió que não tinha medo de nada e pôr diversas vezes desafiou o sargento Furrupa e seus oito homens para brigar, chegando a sacar sua peixeira e chamar todos de covarde. Fogoió foi preso diversas vezes e amarrado de cabeça para baixo, pois toda vez que era preso ele não passava nem duas horas preso e conseguia fugir.

O último problema entre o Sargento Furrupa e o Fogoió o mesmo foi espancado e algemado pé e mão, colocado em uma cela de cabeça para baixo e todo ensangüentado conseguiu fugir na mesma noite da delegacia, onde só tinha um policial de plantão. O sargento foi avisado na mesma noite e, sem querer acreditar, falou em meio a multidão que Fogoió só poderia ter pacto com o diabo, logo após sua fuga o mesmo nunca mais foi visto na região.

No dia 15 de março de 1979 acaba a era Nunes Freire e o projeto de colonização é reiniciado logo depois no Governo de João Castelo. Buriticupu. Voltou a crescer com a inauguração de escolas, abastecimento de água, açudes e distribuição de casas e terras para novos colonos habitarem a região. Em 1982 surge o primeiro político da história de Buriticupu, foi a lacrador Francisco Gomes Pinheiro, Chico Mudança, que foi eleito vereador do povoado no município de Santa Luzia do Tide que era o município antes do desmembramento.

Em 1983 acaba o grande governo de João Castelo e surge o governo de Luís Rocha onde o projeto de ocupação sofreria mais uma parada no andamento dos projetos. Só nesta época a extração de madeira, a agricultura e a pecuária já estava no auge e o povoado sofria um crescimento assustador com uma população aumentando a todo instante onde surgiu a feira do Chega-mais em 1984 que até hoje fica à margem esquerda da BR-222 e no início os administradores do povoado queriam tirar e os comerciantes só não saíram do local devido a intervenção do deputado Davi Alves Silvam onde o trecho da rodovia foi batizado de Avenida Davi Alves Silva.

Um lado lamentável para o progresso de Buriticupu foi quando a Companhia Vale do Rio Doce pediu para os administradores do povoado uma área para ser construído um conjunto funcional dotado de quadras poliesportivas, casas, centro educacional e, como contrapartida a empresa iria construir colégios, desenvolver projetos sócio-educativo-cultural e aproveitar uma grande quantidade de mão-de-obra local para ser treinados e empregados na própria CVRD; o pedido foi de imediato negado pelos administradores da colônia e até então, em uma conversa informal com um gerente da Fazenda Verona localizada em Bom Jesus das Selvas, o gerente perguntou aos engenheiros se uma área da fazenda era interessante ao projeto e de imediato os engenheiros responderam que sim. Bastou um telefonema para o proprietário Chico Rico e tudo foi resolvido com uma doação de 10 ha para que a CVRD desenvolvesse o projeto. Logo em seguida começou a construção, o município de Bom Jesus das Selvas tem diversos projetos apoiados e patrocinados pela CVRD e hoje a cidade de Buriticupu ficou apenas com o prejuízo, onde deixa de arrecadar impostos municipais em função do grandioso projeto, além de não dar uma maior condição de emprego aos moradores.

Após um longo período de colonização Buriticupu toma um novo rumo em meados de 1987 onde, o lavrador chamado Luis Soares Filho, o Vila Nova, com o apoio do Partido dos Trabalhadores e do Movimento dos Sem Terra, organiza os lavradores e começa uma verdadeira luta armada entre os colonos e os latifundiários que se protegiam com jagunços e tinham o apoio informal de políticos, policiais e pistoleiros da região. Um fato importante a ser citado foi a invasão da Fazendo terra Bela de propriedade do pecuarista Fernando Brasileiro onde lavradores armaram uma emboscada e mataram duas pessoas e feriu o gerente da fazendo. O pistoleiro Agenor também sofreu uma emboscada e foi encontrado às margens da BR-222 com quatro tiros, sinais de tortura, olhos furados, castrado e a cabeça esmagada por pauladas.

Em 1990 Buriticupu já é o maior povoado do Maranhão e juntamente com ele aparece o então lavrador Vila Nova como uma figura política de oposição onde começou sua vida pública coordenando o Movimento de Animação Cristã no Meio Rural, depois dirigiu por 9 anos o Sindicato dos Trabalhadores Rurais e a Federação Estadual dos Trabalhadores Rurais de seu estado. Já no Maranhão criou o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Esperantinópolis. Em 1982 tentou conciliar o trabalho com a política e em Imperatriz se candidatou a deputado estadual pelo PT, porém não foi eleito mais ganhou o apelido de Vila Nova porque morava naquele bairro da cidade. Em 1983 muda-se para Buriticupu onde fundou a Associação Cantareira e logo depois foi eleito presidente do diretório estadual do PT. Em 1985 tentou sem sucesso elerger-se prefeito de São Luis e um ano depois novamente perde a eleição para deputado estadual. Em 1988 foi candidato de oposição para a prefeitura de Santa Luzia do Tide e, apesar de ganhar em Buriticupu, perdeu na somatória geral dos votos. Contra Vila Nova pesa várias acusações como formação de grupo armado, comando da violência no campo, assassinato de fazendeiros e pistoleiros e depois de muitas acusações e ameaças de morte ele já vivia com pouca aparição em público. Em 1990 finalmente Vila Nova se elege deputado estadual pela PT e durante muito tempo comandou com maior velocidade as invasões de Terra. Nesse período ele foi bastante procurado pelo pistoleiro Deusdeth que mais tarde foi morto em uma troca de tiros com a polícia.

Em 1990 chega o Banco do Estado do Maranhão e um ano depois o Banco do Brasil. Nesse período já estava no auge o comércio em uma esquina conhecida como Pé-de-amêndoa que hoje é um dos principais pontos comercial daquele município. Em 1991 começa o sonho de emancipação política do maior povoado do Maranhão. Antes disso o primeiro requerimento pedindo tal feito foi encaminhado pelo deputado Yedo Flamarion Lobão à mesa da Assembléia Legislativa do estado do Maranhão no ano de 1983. Em 1991 o Tribunal Regional Eleitoral pede ao cartório eleitoral de Santa Luzia do Tide um levantamento da população do povoado que foi divulgado dia 23 de janeiro de 1992 com um total de 7.733 eleitores. Em 01 de outubro de 1993 os deputados Carlos Braide e Oséas Rodrigues entram com um requerimento na Assembléia que pela resolução legislativa N. 238/93 autoriza o TER a fazer o tão sonhado plebiscito para a criação do município de Buriticupu.

Um ano depois o atual presidente da república Luis Inácio Lula da Silva faz comício no dia 16 de abril de 1994 em campanha para presidente. O plebiscito eleitoral foi realizado dia 19 de junho de 1994 e 6.034 eleitores votaram sim, 86 votaram não, 65 votaram em branco, 44 anularam o voto em um total de 6.229 votantes. Depois do resultado positivo do plebiscito eleitoral surge a lei n. 6.162 de 10 de novembro de 1994 que criava o município de Buriticupu.

Os limites territoriais do Município são com: Santa Luzia do Tide, Arame, Amarante do Maranhão e com Bom Jardim.

Logo após a criação do município quase nada mudou e para mostrar que realmente queria descentralizar a administração, o prefeito de Santa Luzia do Tide Antônio Braide nomeou Simar Pereira Pinto para administrar o povoado e fiou até a sua morte em 29 de setembro de 1995 onde assumiu a administração o jovem Gildan Medeiros que ficou até a data da eleição de 1996. Para prefeito foram cinco os candidatos e 69 para as nove vagas para vereador municipal.

Os dois candidatos propícios a vencer a primeira eleição municipal de Buriticupu era o atual administrador Gildan de apenas 25 anos de idade e apoiado pelo maior chefe político da região Antonio Braide e, o outro era o maquiavélico político Raimundo Araújo, ex-vereador e apoiado por dois chefes da política e pistolagem no estado que eram os Deputados Davi Alves Silva e o deputado José Gerardo de Abreu. Com um discurso inflamado o candidato Raimundo Araújo chamava seu principal adversário de menino e o Gildan usava o discurso do adversário como principal arma para garantir a eleição. Ele costumava falar durante seus aplaudidos discursos que “Tenham-me os jovens como seu irmão, os pais como seu filho caçula e os vovôs como seu neto querido”. Em 03 de outubro de 1996 o candidato da coligação governando com o povo PRP/PTS, Antonio Gildan Medeiros, foi eleito com 2.776 votos o primeiro prefeito municipal da cidade de Buriticupu. A posse do prefeito e vereadores eleitos foi dia 01 de janeiro de 1997 em uma solenidade realizada na escola municipal Pe. Edmilson de Sousa Freire no bairro Terra Bela, onde diversas autoridades estiveram presentes.

Hoje Buriticupu conta com 20.839 habitantes, onde quase metade dos moradores mora na zona rural. Ele está situado na microrregião de Pindaré, na parte oeste do Maranhão e possui uma área de 2.731 km2 e fica a 420 km da capital do estado. Hoje os meios de transportes são bastante diversos podendo o visitante chegar pela Br-222 e pela MA-06

(estrada do Arame). Os visitantes podem chegar também por meio aéreo através do aeroporto municipal, estrada de ferro Carajás e os moradores ribeirinho utilizam em pequena escala os rios da região para se deslocarem.

E com tanta riqueza de conhecimento que gostaria que os bons leitores culturais tivesse também a oportunidade de ler esta importante publicação de Isaias Neres Aguiar, um maranhense de Olho d’Água das Cunhãs que em 1994 chega com sua família em Buriticupu e deixa o seu nome escrito na história e na cultura do povoado daquela cidade.

Autor - Weldyman Vitório de Sousa,

São Luís - MA 01 de setembro de 2003.

JORNAL PEQUENO, página 8