quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

EDUCAÇÃO - EMANCIPAÇÃO DO CIDADÃO

John Dewey, filósofo e educador norte americano, autor de 36 livros, sendo quatro mais conhecidos em o português, é um dos poucos intelectuais da área de filosofia e educação, de renome fora do eua, viveu mais intensamente sua carreira acadêmica na primeira metade do século XX. Em filosofia, absorveu o itinerário anglo-germânico. Somando pragmatismo, liberalismo e idealismo hegeliano, produzindo obras pedagógicas cuja temática envolvia a democracia e a experiência.

Na obra “Democracia e educação”, escrita em 1.916 e reescrita em 1.926, período de mais maduro da produção de suas obras, o autor trabalha com a importância da experiência individual, pois ela é expressão da vida, assim: vida é educação, educação é vida, e vida é experiência.

Ainda hoje, as obras de Dewey norteiam a prática pedagógica norte-americana e exercem forte influência sobre a prática pedagógica brasileira. Recentemente o IUPAC - Institute for Advancement of Philosophy for Children contando com as contribuições de Matthew Lipman e Ann Sharp, desenvolveu vasto material didático, visando fomentar e discutir os procedimentos da Filosofia nas escolas de 1º e 2º graus, baseando na pedagogia deweyana, no pensamento de Platão e na maiêutica socrática. O projeto se estendeu por mais de 30 países, dentre os quais o Brasil, onde fora somado o pensamento de Paulo Freira através de diálogo estreito com sua obra, principalmente no caráter reflexivo e dialógico da educação.
Na referida obra, Dewey entende que a vida só se processa na medida em que o indivíduo interage com o meio, retirando deste os elementos fundamentais de que necessita para gerar conhecimento.

A experiência, enquanto interação com o meio, aparece como elemento importante, pois, ela possibilita tanto o indivíduo quanto a sociedade a renovação de ideais, crenças, hábitos. É a educação quem possibilita a burilar do conhecimento acumulado, a assimilação e a transmissão aos membros mais jovens do grupo.

Já que a escola proporciona de modo rápido e sistemático o contato com situações novas, o crescimento decorre da possibilidade de se conviver democraticamente com diferentes indivíduos de diferentes grupos (leia-se também classes).

A educação aparece como caminho privilegiado para despertar o interesse voluntário, a experiência conjunta, partilhada por todos, independente de sua função, papel ou identidade social. O autor chama a atenção para a distinção entre vivência e partilha: a vivência é o momento em que o trabalho é realizado individualmente, é o momento da experimentação, única possibilidade concreta de aprendizado; já a partilha, refere-se ao trabalho em grupo, onde são reveladas as descobertas individuais. Se a experiência é singular, todos falam a verdade, pois, cada uma capta o acúmulo de experiência que tem. Somente num grupo e numa sociedade genuinamente democrática, se tem assegurado que a verdade individual será respeitada e aceita como base para a investigação.

Se estabelecermos para aprendizagem um objetivo prévio, corremos o risco de tornarmos a aquisição do conhecimento pobre e mecânico. Na medida em que se abre um leque de objetivos, tem -se não mais um fim mais um caminho, mas diversas hipóteses e descobertas que não foram previstas e que podem ser exploradas num grupo ampliado.

Fazer ciência para Dewey, não é ensinar conceitos acabados e paradigmas construídos, mas apropriar-se do instrumento mais próximo, quotidianos, como base para a construção dos princípios fundamentais, que possibilitem a elaboração de procedimentos científicos, estruturados em idéias próprias.

A Ciência pode fazer um tipo de Filosofia, desde que se torne uma atitude diante do mundo. Fazer filosofia, não implica em preservar e cultivar verdades e ensinar conhecimentos, mas em colocar-se diante do mundo, na qualidade de quem quer descobri-lo ou significá-lo. Esta postura ativa implica na possibilidade de acumulação qualitativa e na flexibilidade diante das novas situações, já que um fato não se repete de forma idêntica por duas vezes.

A vida só se processa na medida em que os indivíduos interagem com os meios, retirando deste os elementos de que necessita para se perpetuar. A experiência, enquanto integração com o meio, surge como elemento importante, pois, ela possibilita, tanto ao indivíduo quanto a sociedade, a renovação de ideais, crenças, hábitos. E é a educação quem possibilita o burilar do conhecimento acumulado e a transmissão aos membros mais jovens do grupo.

Desta forma, a educação significa fator primordial de sobrevivência à comunidade, porém, esta educação não deve se limitar a obedecer ordens ou a dá-las, mas deve dirigir-se a co-participação.

A vida e a prática social também são educativas. E a educação formal deve respeitar e valorizar esses momentos, não permitindo dicotomias entre o aprendizado formal e o informal como se fossem instâncias epistemológicas estanques.
A educação deve ser entendida como “condição de crescimento”, ciente disto ela deve libertar as aptidões; a linguagem, por exemplo, elemento importante para transmitir experiências deve ser corrigida.

Uma vez que os indivíduos convivem na sociedade com diferentes grupos, que mais ou menos influenciam seus hábitos e pensamentos, a escola aparece como um grupo que possibilita o alargamento dos horizontes. A convivência na escola de crianças de diferentes condições culturais, econômicas, credos religiosos, propiciam novas perspectivas que em seus grupos de origem, provavelmente não teriam.

Cabe a escola integrar e purificar os costumes, fortalecer nos indivíduos mais maduros o equilíbrio da convivência social e a multiplicidade de interpretações para o mundo.

Os indivíduos mais imaturos caracterizados principalmente pelas crianças possuem seus “impulsos naturais”, não raras vezes, em dissonância com os hábitos da sociedade a qual pertencem; assim, elas devem ser estimuladas com o intuito de influenciar diretamente o seu comportamento numa direção socialmente mais satisfatória e madura, não de maneira mecânica e controlada, pois, é importante que a criança tome parte neste processo, com ações até diferenciadas, porém, atingindo o mesmo fim.

A educação aparece não como sinônimo de falar e ouvir, mas como processo ativo que rompe o âmbito da repetição e obediência estabelecendo uma identidade interior que cria mentalidade social e tornam conscientes as aptidões dos indivíduos.

O crescimento decorre da possibilidade de conviver com outros indivíduos, desenvolvendo a reflexão, a capacidade inventiva, a iniciativa, decorrente das experiências acumuladas. Neste processo de aprendizagem, se constroem os hábitos e se estabelecem domínios sobre o meio em que se vive, historicizando-o e, portanto, humanizando-o.

O entendimento da vida como desenvolvimento, leva-no a encarar as atitudes infantis como atitudes passiveis de crescimento; à educação compete fazer desenvolver as potencialidades dessas atitudes, despertando o desejo de crescer.

Dewey aponta o maior mérito de Herbart, que foi a de propor a observância dos modelos culturais e literários como metas a serem atingidas pela educação, ou seja, Herbart retirou a educação do acaso, elucidando um método consciente, porém, Dewey se contrapõe a ele na medida que este omita a possibilidade do desenvolvimento, quando em contato ativo e criativo com o mundo, que pela reorganização e reconstrução coordena as atividades inatas, no sentido de se apropriar e aprimorar o conhecimento advindo do meio externo.

Fica descartada a possibilidade de repetição do conhecimento na educação, pois ele significa estagnação, ao contrário do que se verifica na quotidianeidade. A cada geração acrescentam-se novos conhecimentos aos já existentes, assim como a cada experiência individual surgem sempre novas relações que colocam o conhecimento socialmente acumulado em cheque, sobrepondo-se a ela novos conceitos, novas prioridades, novos interesses, novas justificativas.

Neste aspecto a educação tem fundamental papel como acelerador do ciclo de transformação e criação, propiciando ao aluno o rápido contato com situações novas, estimulando a reorganização das experiências, mantendo vivo o processo de crescimento e reflexão.

A educação tem profundos vínculos com a forma de governo. Um governo que se estabeleça legitima e democraticamente, não tem sustentação se aqueles que o elegeram não forem devidamente formados (educados) dentro desses parâmetros. Uma sociedade genuinamente democrática, não deveria suportar imposições a sua gestão, já que elas têm um caráter distinto e externo dos propósitos de pluralidade e diversidade do pensamento.

A educação aparece como caminho privilegiado para despertar o interesse, a experiência conjunta, partilhada por todos, independente de sua função, ou papel social (diga-se classe social). Aqui Dewey chama a atenção para a distinção entre vivência e partilha: a vivência é o método em que o trabalho é realizado individualmente, é o momento da experimentação individual, possibilidade privilegiada e concreta de aprendizado; já a partilha refere-se ao trabalho grupal de revelação das descobertas individuais, onde as construções individuais são aferidas e postas em prova. Se a experiência é singular, todos falam a verdade, pois cada um capta segundo o acúmulo de experiência e o modo de significação que tem, mas esta verdade diz respeito também, e ao mesmo tempo, a certas condições sociais, a certos limites espaço-temporais socialmente dados, o quer dizer que todo conhecimento passa pela validade social, e é reconhecida neste espaço dinâmico entre os argumentos individuais e os valores sociais. Somente numa sociedade genuinamente democrática e num grupo democrático, se tem assegurado que a verdade individual será respeitada e aceita no sentido de ser considerada como objeto de reflexão e levada em conta.

Se estabelecermos para a aprendizagem um objetivo prévio, corremos o risco de tornarmos a aquisição do conhecimento mecânico e pobre. Na medida em que se abre um leque de pré-definido e objetivo, tem-se não mais um fim e um caminho, mas diversas hipóteses e descobertas que não foram previstas, não estavam postas de antemão, permitindo processos mais livres e criativos.

A natureza da experiência envolve dois aspectos: um ativo (que implica na expectativa e no contato), e outro passivo (cujo movimento nos remete a deixar-se levar por ela). Essa expectativa é que possibilita a associação que se faz do calor com a dor, estabelecendo uma relação de causa-efeito, possibilitando uma conclusão: o contato com o fogo pode significar ferimento e sofrimento. A reflexão é o momento do estabelecer os nexos causais da experiência, propiciando o aprendizado, ultrapassando o mero caráter empírico causa-efeito, instigando a reflexão, o controle, o domínio e muitas outras relações que chegam, por exemplo, ao domínio social dos potenciais do fogo.

Em nossas escolas muito embora se reconheça a importância do ato de pensar, do desenvolvimento de algumas habilidades de raciocínio, da leitura e da escrita, tem-se um modo ineficiente de empreendê-lo. Esquecemos que o caminho que assegura o aprendizado, implica antes de qualquer coisa, na reflexão e no pensamento. O estágio inicial desse processo está numa dinâmica que estimula o aluno para além da mera assimilação, para além do empírico.

Essa experiência, contudo deve obedecer a parâmetros lógicos de abstração que no grupo são elucidados, manipulados e reconhecidos, dando-lhe a garantia de revelação cognitiva socialmente válida, eliminando os caracteres acidentais e contingenciais.

A crença na impossibilidade de conhecer por vias práticas, e a identificação dos valores espirituais como mais elevados, são heranças da cultura grega. Dewey, apesar de valorizar sobremaneira o processo reflexivo, parte dele, nos encoraja a aceitar os seus desafios, até mesmo como provocações para confirmar as teorias que temos. Ele, sobre os gregos (e de certa maneira sobre toda a pedagogia tradicional, principalmente norteada pelo pensamento de Herbart) dizia que eles se esquecem, que os conceitos racionais necessitam de bases empíricas para poderem postular seus preceitos.

Esquecem-se por outro lado, aqueles que identificavam a experiência como puro conhecimento. O indivíduo possui elementos ativos, que reagem e interagem na experiência tornando-a singular. A vida do indivíduo depende das condições em que vive pensar em um homem sem estes condicionantes, é pensar em homem vazio, abstrato, neutro, metafísico e, portanto, inexistente.

No âmbito da epistemologia, uma sociedade que se define como democrática, deve estimular a livre troca de experiência e informações individuais, pois, elas não sufocam o novo, mas sim, preparam o indivíduo para bem participar da vida em sociedade.

Esta obra de Dewey, no que se refere ao âmbito pedagógico, é uma das mais importantes. Dentro do escolanovismo brasileiro marcadamente ocorrido entre as décadas de 1930 e 1970, é ela quem inaugurará a corrente humanista moderna no Brasil, tendo importantes divulgadores como Anísio Teixeira, que, aliás, introduzirá quase todos os livros de Dewey em português.

Além de importante referência da filosofia da educação, o livro é fundamental para o entendimento de temas como democracia, convivência social e liberalismo.

BIBLIOGRAFIA

DEWEY, John. Democracia e Educação. São Paulo, Melhoramentos, 1974.